'CQC' e 'Pânico' abrem discussão sobre bom e mau gosto na TV
Quem diria que o CQC o Pânico na TV! poderiam começar uma discussão filosófica. Mas, de certa forma, foi o que fizeram. Desde que apareceu na televisão brasileira, o CQC - que voltou ao ar semana passada, na Band - tenta se desvincular da imagem de "mero" humorístico e ter a reputabilidade de um jornalístico. E assim se afastar de outros programas juvenis, em especial, o rival Pânico, com estreia prevista para 1º de abril na mesma emissora. Para Marcelo Tas, líder do CQC, o Pânico é apelativo, pela presença das despidas Panicats e por um humor que já classificou como grosseiro. "O CQC é para gente de mais bom gosto", afirmou.
Pode parecer apenas uma disputa de espaço e prestígio entre dois grupos humorísticos dentro da mesma emissora. Mas bom gosto é uma expressão ardilosa, porque entra no perigoso mundo das subjetividades. E a questão do gosto tem atormentado pensadores desde os primórdios da filosofia.
A dificuldade em afirmar a superioridade de um gosto - "bom gosto" - sobre outro - "mau gosto" - está em tornar essas escolhas ou gostos em decisões objetivas. Nunca são. E, por mais que tentassem, os filósofos e cientistas nunca descobriram uma "faculdade do gosto", no sentido de aptidão ou capacidade. E simplesmente porque ela não existe. As pessoas gostam ou não gostam das coisas conforme as experiências que tiveram, as influências que absorveram, as decisões que tomaram.
Mesmo a ideia de consenso entre muitas pessoas a respeito do bom ou do mau gosto é muito difícil, especialmente em um mundo com classes sociais diferentes e formações culturais diferentes. Padrões de gosto mudam conforme as pessoas mudam.
Isso tudo pode parecer uma conversa esquisita para falar de dois programas de humor, mas ela está exatamente no centro de tudo o que está sendo visto na TV brasileira da atualidade. Com a ascensão da chamada "nova classe média", novos padrões de gosto emergiram e novos produtos têm sido criados para acreditam os produtores atender essa demanda, especialmente nos canais abertos.
No fundo, "bom gosto" é uma expressão filiada às "boas maneiras", à "boa educação" e à "alta cultura". Quer dizer, uma cultura de um patamar superior usufruída por uma classe dominante. Essa perspectiva elitista há muito tempo também não dá conta de avaliações estéticas. Um mundo multicultural necessita de pluralidade de opiniões, o que só é conquistado pelo diálogo e pela discussão. Assim, arte, humor e televisão são coisas públicas, que só existem em sociedade. E, como tudo o que é público, implicam em argumentação. Classificar mulheres seminuas como apelação não resolve o problema. Não custa lembrar que a Vênus de Milo - de "bom gosto" indiscutível - também está nua. E que Sabrina Sato anda cobrindo as pernas demais.
Fonte: Terra
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