Iozzi: Só a minoria é gente boa no Congresso


Ela diz que jamais se candidataria a nada, a não ser repórter de televisão - Foto: Clarissa Mirzeian/eBand
A repórter do CQC Monica Iozzi concedeu uma entrevista exclusiva na qual ela revela que, na sua opinião, só a minoria dos parlamentares trabalha para melhorar a vida do povo “e estes ainda sofrem muito”, diz.

Iozzi revela ainda sua desilusão com os políticos brasileiros, diz que não se candidataria a nada e conta que sua vontade é mostrar o que ela vê na política à população brasileira. Confira abaixo trechos da entrevista:

Se você tivesse que dar uma nota para a política brasileira, qual seria?

Nossa...Eu não sei porque na verdade é difícil falar sobre isso, pelo seguinte: se eu der uma nota três, por exemplo, eu posso estar dando uma nota baixíssima para quem merece e uma nota alta para quem não faz nada.

O que eu vejo trabalhando aqui: a minoria é gente boa. Não no sentido de julgamento. A minoria está realmente trabalhando para melhorar a vida do povo. A maioria está trabalhando pelos interesses individuais, não pelos interesses da população. E essa minoria que trabalha pelo povo sofre muito, é muito difícil para eles conseguirem fazer alguma coisa. Então não gosto de jogar eles no lugar dos outros sabe?

Se eu der uma nota para todo mundo não seria justo.

Tem dias que em você chega a sair da gravação pensando: que dia sofrido?

Eu acho que sofrido é uma palavra forte. [pausa] Eu saio cansada. Não é só um cansaço físico, é um cansaço mental, acho que a palavra seria desiludida.

Hoje [na última quarta-feira, dia 23], por exemplo: fazendo matéria sobre a corrupção, a gente levantou os dados da FGV, da ONG Transparência Brasil e aí você vê que 60% dos deputados federais têm algum processo na Justiça. E se você vai falar sobre isso eles acham graça, que é perseguição política. Dos 513 deputados, 310 têm processos na Justiça. Destes, todo mundo é perseguido? É vítima? E você fala: esses caras estão fazendo as leis do país.

E não é acusação pequena...o cara é acusado de peculato, de envolvimento com a máfia das ambulâncias, caixa dois, prestou contas erradas na campanha...e para eles tudo bem.

É incrível no sentido da palavra mesmo. Não dá para você crer. É uma coisa que falam que é impossível. É o meu trabalho: faço porque gosto, porque quero, mas não saio de lá esperançosa não.

Eu saio com vontade de mostrar para as pessoas o que a gente vê. Porque tem muitas coisas que não chegam à população. As pessoas não sabem como é o trâmite da coisa, que a oposição pode bloquear uma votação importantíssima porque é oposição e eles querem outra coisa. Um jogo né? A população não está sabendo desse jogo. Explicitar esse jogo é o nosso trabalho.

Qual a sua avaliação do trabalho com os políticos? O balanço é positivo ou negativo?

Acho que tem os dois lados. No lado pessoal, no que isso mudou na minha vida, acaba sendo ruim porque eu me dei conta de que a coisa é muito pior do que parece, mas ao mesmo tempo é bom, porque é sempre melhor a gente estar relacionando com a verdade.

Apesar de eu ter descoberto que "o buraco é mais embaixo", eu acho importante ficar sabendo disso do que passar a vida inteira sem saber.

Do programa como um todo, é um balanço muito bom. As pessoas só veem o trabalho final...muito do que a gente é xingado, desrespeitado não chega, porque não é esse o nosso objetivo, não queremos colocar o CQC no papel de vítima. A gente só quer colocar a coisa importante em discussão, só isso.

Eu me lembro que, antes de entrar no CQC eu estava um dia com amigos, vendo o programa, e de repente estávamos em uma roda de amigos discutindo política pela primeira vez em quase 10 anos de amizade.

Eu acho que essa coisa do CQC chamar um pouco o foco para isso, principalmente da galerinha mais jovem, eu acho fantástico. Não que eu ache que a gente está mudando o mundo, não sou ingênua a esse ponto, mas só da discussão aumentar um pouquinho já é válido. Se toda pessoa que nunca prestou atenção na política parar para ver a minha matéria, já estou feliz. Porque quanto mais a gente souber, mais difícil esses caras enganarem a gente.

Você gostaria de falar sobre mais algo marcante?

Outra coisa que me marca muito: no Brasil, a gente da mídia acaba fazendo política. Não vou julgar, acho que o cara não vai ser bom ou ruim por ter vindo do universo de celebridades ou não. A população está tão descrente na política que qualquer pessoa que tenta questionar um pouco mais as coisas vira um possível candidato.

Tem muita gente querendo me transformar em candidata. Eu sempre digo que não, principalmente depois que passei a conhecer mais a coisa de perto, não. Acho que eu não conseguiria me bandear para o lado ruim e os bons não conseguem quase nada.

Sem contar que é um negócio chato para caramba, sabe? O Congresso é forrado de carpete, tem ar-condicionado pra todo lado, é um lugar terrível. (...) Eu sou meio anarquista, jamais me candidataria a nada,
a não ser a concurso pra ser repórter na televisão [risos].



Qual o “causo” mais curioso que você já vivenciou no Congresso?

Eu lembro que teve uma vez um deputado, bem velhinho, acho que ele deve ter uns 70 anos de idade. Ele veio me perguntar se eu estava feliz na Band. Disse que sim, que estava tudo ótimo. Aí ele me disse: eu acho que o CQC não está cuidando bem de você. Você está sendo subaproveitada. Aí eu achei tão bizarro que pensei: será que este velhinho está meio gagá?

Eu dei corda, porque eu queria saber o que ele iria falar. Aí ele disse: eu acho você muito inteligente, bonita e atraente. Sou dono de duas ou três emissoras no Mato Grosso e precisava de uma pessoa como você para tomar conta das minhas emissoras.

Eu não sabia o que fazer. Comecei a rir, e disse: não sou empresária. Aí ele retrucou: estou precisando de você lá comigo, e pegou no meu braço.

Eu retirei a mão dele e dei uma “prensada”: fala claramente qual a sua proposta, quero ver se eu estou mesmo entendendo.

Aí ele falou: você me entendeu. Eu respondi, deputado: o senhor é uma pessoa de idade, então vou fingir que o senhor está caducando.

Você lembra quando foi isso, qual o nome dele?

Cara, eu não lembro o nome dele...São 513 [parlamentares]. Eu costumo lembrar quem líder dos partidos, ou quem é expressivo na Casa. Esse não é expressivo. Isso ocorreu em abril ou maio deste ano. Ele disse que tinha uma mulherada muito feia lá no Congresso, que precisava de uma pessoa mais bonita.

A câmera estava ligada no momento desta “cantada”?

Não, eles não são bobos [risos]. Mas acho que eu dei uma enquadrada tão bem dada que agora toda vez que ele vê a gente ele desvia, foge, anda mais rápido, pega o celular.

Eu também não tenho nenhum interesse em falar com ele, porque além de ser um político inexpressivo não quero dar brecha para ele vir falar mais alguma bobagem.

Houve algum mico ou alguma situação em que você pensou: “por que eu falei isso?”

Eu costumo chegar no Congresso muito bem informada, porque se eu erro uma vírgula o cara começa a questionar essa vírgula e foge do assunto.

Mas eu me lembro que houve uma vez, quando eu estava chegando em Brasília. Fui cobrar um deputado, que era muito educado. Falei de várias acusações e no final não era ele [risos].

Eram acusações graves como formação de quadrilha, peculato e crime eleitoral. Falei tudo, indignada, e ele ouviu na maior boa vontade. No final ele colocou a mão no meu ombro e falou assim: eu não sou essa pessoa. Tirou o RG e mostrou. Esse cara não tinha nenhum processo nas costas, coitado. Graças a Deus que esse programa não é ao vivo [risos].

Monica também comentou como é o processo de criação das reportagens do CQC em Brasília

O CQC é muito corrido. A gente não tem reunião, não tem um momento em que todo mundo senta para ver pautas. O programa depende dos eventos, como lançamento de algum livro, a festa de alguém, o jogo de futebol.

Na política, especificamente, a gente depende do que está acontecendo. Na política, tudo acontece muito rápido. Se perder, fica frio. Eu procuro estar sempre bem informada. Agora é até mais profissional depois do começo do CQC: eu acordo, tomo café e depois leio o jornal.

Se eu chegar aqui com uma informação a menos posso perder alguma informação para a matéria. Então sou bem nerd [risos].

A gente às vezes chega com uma matéria na cabeça, mas as coisas mudam. Por exemplo, nesta semana a gente teve a votação da DRU [Desvinculação das Receitas da União]. É um assunto difícil, para o formato do CQC não é algo fácil de abordar. Não rende... o governo acabou entrando em acordo com a oposição, e a gente precisa de coisas para tratar neste tempo de 10 minutos e que o público entenda.

O CQC é uma fonte de informação mas não é nenhum jornal né? Tem que se preocupar com a contundência, se vai interessar as pessoas. Nesta semana pegamos casos em assembleias em vários Estados para tentar descobrir: a corrupção aumentou no Brasil? É isso que a gente está falando nessa semana. A gente tem ainda uma lista de espera de assuntos, e com base nisso é criada uma pauta que tem a ver com a realidade atual.

Qual foi a reportagem que depois que você gravou e pensou, "nossa, que legal!"?

Teve uma matéria que eu fiz, a da frente da cachaça, acho que foi no ano passado. A gente escreveu uma PEC [Proposta de Emenda à Constituição] falsa que incluía a cachaça na cesta básica do brasileiro, e demos para os deputados assinarem. Apenas um deles não assinou.

Eu lembro que não acreditava no que tinha acontecido. Como cidadã, como expectadora mesmo. Eu me perguntava: meu Deus, como assim!

É absurdo o resultado da matéria. Você vê como eles assinam qualquer coisa. Em relação a esta matéria, eu fiquei muito orgulhosa porque ela retrata bem como são os nossos parlamentares.

E teve reportagens que tiveram um lado bom, que te surpreenderam pelo lado positivo?

Teve a matéria que eu fiz com a presidente Dilma. É uma coisa que eu achei que nunca iria acontecer, porque ela é uma pessoa mais fechada do que o presidente Lula. O máximo que eu tinha conseguido até então tinha sido mandar um presentinho de longe.

Mas aí um dia ela me chamou, ela [fala com ênfase] quebrou o protocolo. Isso eu achei muito legal. Ela fazia só uns três ou quatro meses que ela tinha assumido, então foi um contato mais para desejar boa sorte. Ela foi super receptiva, então esse contato com a Dilma me marcou, fiquei muito feliz.

Como é a abordagem sua na rua, em relação a estas matérias?

Como eu sou agora praticamente a única que faz política, com a saída da Danilo [Gentili], as pessoas me abordam muito na rua, sempre com alguma coisa para contar. Me falam muito sobre esta matéria e também daquela sobre a cassação da [deputada] Jaqueline Roriz. Muitas coisas do CQC as pessoas não esquecem.

Você se lembra de alguma reportagem que teve o efeito contrário? Uma daquelas que foram além do que você imaginava?
Eu me lembro de dois casos: um do controle de qualidade. Teve uma semana em que a gente estava falando de violência, parece que os índices proporcionalmente eram maiores em Pernambuco. Aí a gente pensou o básico: ah, será que eles sabem onde fica Pernambuco? Pegamos o mapa do Brasil e fomos lá.

Os caras falaram que Pernambuco era em Minas, no Amapá....foi absurdo. Foi além do que a gente imaginava.

As pessoas ficaram muito mais indignadas até do que a gente: ‘os caras nem sabem que Pernambuco fica na Região Nordeste, os caras que estão representando o Brasil!’.

Houve até um parlamentar que apontou para o meio do Amazonas e disse: é por aqui.

Outra reportagem que me deixou feliz foi sobre a Jaqueline Roriz. Quando a gente fez a matéria da absolvição, nós fomos os únicos a falar com ela. Mas eu achei que ninguém fosse dar muita bola, porque não era uma pessoa com projeção nacional, mas naquela semana foi uma loucura: foi enorme a quantidade de e-mails, de mensagens, de pessoas que me pararam na rua.

É engraçado porque as pessoas te agradecem sabe? As pessoas que me param na rua e falam: obrigada, era isso que eu queria falar. Às vezes eu me sinto muito representando o eleitor. Sei que não é isso, mas é o que tento fazer. Quando alguém me agradece na rua, é a melhor parte do meu trabalho.

Os fãs do CQC são muito carinhosos. A gente recebe muitos presentes. miniaturas, caricaturas, cartinhas, muito artesanato que fazem com a gente, com o nome do CQC. Eu já ganhei até flores.

Mais para o final da entrevista, Monica Iozzi se lembrou de outro momento marcante envolvendo o público do CQC:

Eu fui meio que incumbida de cobrir os presidenciáveis. Aí eu fui em um colégio de São Paulo cobrir o [José] Serra. A maioria das pessoas que iria votar lá era da terceira idade. As velhinhas ficaram enlouquecidas por mim. Sou a rainha das velhinhas, elas me adoram [risos].

Elas vinham me abraçar, perguntavam se eu estava comendo direito, me davam abraços, na hora de ir embora diziam: que Deus te abençoe, uma delas tinha bolo em casa e me trouxe. Naquele dia eu me senti ótima.
Fontes: band.com.br e Blog do CQC

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