Gentili: "Não sei quanto tempo vou ficar no CQC"
Menos de três meses depois de ter estreado, o late show de Danilo Gentili na Band será ampliado em 50%. A partir do dia 20, o Agora é Tarde saltará de duas para três edições por semana, indo ao ar às terças, quartas e quintas-feiras, às 23h45.
Clayton de Souza/AE |
Ainda em março, quando a Band anunciou sua programação para o ano e o título destinado a Gentili era apenas projeto, o humorista insistia em dizer que sabia que em algum momento as coisas começariam a dar errado e ele se veria forçado a voltar para Santo André.
Não foi dessa vez. Além do expediente solo, que tem garantido à Band audiência excepcional para o horário na emissora - de 4 a 5 pontos em São Paulo - Gentili se mantém no CQC, nas noites de segunda-feira, e estreia uma série de oito programas de stand up no canal Vh1, dia 4 de outubro. Até o fim do ano, põe na praça mais um DVD e um jogo para iPad.
Ao consolidar audiência em novo nicho, o humorista - também publicitário, cartunista, repórter, empresário, apresentador e roteirista - ganha destaque no cast da casa e vê como real a possibilidade de seu programa vir a ser diário em 2012.
Fórmula que bebeu na fonte dos late nights lá de fora, o Agora É Tarde frequentemente chega ao topo dos assuntos mais comentados no Twitter, seja pelas entrevistas, seja pelos quadros de humor, base do programa. Isso reflete a aceitação do público jovem, que chega cedo aos estúdios da Band para acompanhar as gravações, sempre realizadas no dia em que a edição vai ao ar.
No camarim e já devidamente engravatado, Gentili e os companheiros de palco Léo Lins, Murilo Couto, Marcelo Mansfield e a turma do Ultraje a Rigor se preparam para uma reunião antes de subir ao palco. Num espaço dominado por homens, a repórter do Estado foi convidada se retirar. As piadas que surgiriam poderiam ser impublicáveis, alegaram, ou politicamente incorretas, o que não condiz com o viés que o programa tem tentado construir.
Reunião encerrada, a banda toma seu lugar e os humoristas esquentam a plateia com algumas gracinhas. Não resolve muito. Antes do "gravando", parte da produção trata de ler o texto que será falado pelo apresentador para indicar onde a plateia deve rir, com auxílio de plaquinhas onde se lê "aplausos" e "risos". Mas uma produtora faz questão de avisar, caso alguém se perca: "gente, vocês podem rir e aplaudir quando quiserem, não precisa esperar a plaquinha, ok?".
Com tudo quase pronto, Gentili se apresenta, cumprimenta o público, faz alguns testes. Meninas na plateia se empolgam.
A não ser por obra de alguns problemas técnicos, a gravação só é interrompida quando Gentili e seus companheiros passam dos limites. "Vamos ter de gravar essa parte de novo porque a gente não pode falar que a festa de Barretos é feia", avisa o apresentador, acatando uma orientação do diretor, Marcelo Zaccariotto, já que o evento tem apoio da Band. "É uma festa linda, impecável", diz Gentili, para ouvir de Murilo Couto "oh, linda Barretos!". Corta!
Trupe. Quando soube que teria um programa nos moldes que queria, Gentili buscou parceiros para a empreitada. Marcelo Mansfield, seu "padrinho" na carreira, foi o primeiro. "A gente falava que faltava um late night, nesse formato, na TV brasileira. Eu só voltaria para a televisão se fosse um projeto que realmente me desse tesão, como foi o caso", conta Mansfield, orgulhoso, que já estava longe da TV havia três anos.
Menos óbvio foi o convite para que a banda Ultraje a Rigor viesse a integrar o elenco fixo do programa. Embora veja sua atuação e a da banda mais parecido com o que Paul Shaffer faz no late show de David Letterman, o vocalista, Roger, brinca que já foi comparado a Bira, do Sexteto do Jô. A mistura deu certo. "O contrato era inicialmente de 13 programas, pensando na possibilidade de ser um fracasso total, o que não foi o caso. Já renovamos por mais um ano", conta.
Como se vê, nada indica que Gentili volte tão cedo ao ABC.
Aos 31 anos, Danilo Gentili já acumula experiência no palco, na TV, nos tribunais - obra dos processos judiciais que recebe - e garante que nunca subiu no salto alto, como se diz no meio futebolístico. Mais: não se arrepende de nada até aqui.
O Agora É Tarde ganha mais um dia. Como fica seu contrato com CQC agora?
Sou funcionário da Band até o fim do ano, e estou na época de renovar o contrato. Não sei quanto tempo vou ficar no CQC, depende de como o programa evoluir. Acredito que é vantagem pra todo mundo - pra mim, pra Band, pra Cuatro Cabezas - focar em um produto novo, porque é um lugar em que todo mundo vai estar ganhando, né? Mesmo que eu saia oficialmente, espero ter um espaço pra trabalhar no CQC nem que seja por trás, nos bastidores, dando alguma ideia.
O Marcelo Tas aconselha vocês?
O Tas lê o roteiro e apresenta o programa. Os conselhos acontecem mais entre os repórteres, a gente se vigia e dá dicas. A Monica (Iozzi) me liga pedindo conselho, eu ligo pro (Rafael) Cortez.
Quem você gostaria muito de entrevistar? A Sandy? O Lula?
Porra, queria muito falar com a Sandy. Muito, muito, muito. Já tentamos negociar, mas na época ela não pôde. Tenho me divertido muito com as últimas entrevistas dela. O Lula seria bom também. Uma vez, eu estava fazendo matéria para o CQC e perguntei se ele não quer ir no meu programa tomar umas comigo. E ele disse que vai. Estou esperando...
No palco e na TV, você mostra dois perfis diferentes, não?
Claro. Quem vai ver meu show de stand up, quem vai ver meu DVD, sabe que eu escrevi sozinho, eu faço sozinho, do jeito que eu quero e a responsabilidade é toda minha. Se alguém for processar, eu vou responder e foda-se. Na TV, tem um monte de coisa envolvida, tem patrocínio, tem a emissora, tem o emprego de todo o elenco, tem o público - que não é um público de comédia, é um público massificado. Tenho de equilibrar e colocar na balança o que vou falar. Até hoje eu passo do limite, e quem decide onde cortar não sou eu.
Já se arrependeu de alguma piada?
Não. Nunca. Teve uma vez que contei uma piada pra Pitty, mas eu não sabia que ela tinha perdido um filho. Só depois é que me avisaram isso. É claro que se eu soubesse disso eu não teria feito essa piada.
Você já superou o caso da polêmica envolvendo os judeus? (No Twitter, ele escreveu: "Entendo os velhos de Higienópolis temerem o metrô. A última vez que eles chegaram perto de um vagão foram parar em Auschwitz".)
Eu já. Na realidade, foi uma piada que teve um monte de gente que gostou, outros que não gostaram. O que eu posso fazer? Tá, não gostou? Então, desculpa. Agora dá licença que vou fazer outra piada. Daqui a pouco acontece de novo.
Mas você tem usado o Twitter de um jeito diferente, você faz piadas e depois apaga. Por quê?
Porque me encheu o saco! Tudo o que você faz é usado contra você no tribunal. Então, ah, quer saber... As piadas que eu crio, eu uso tudo no meu programa agora...
Você está satisfeito com o seu programa?
Não, acho que tem muita coisa pra melhorar, coisas de formato mesmo. No próximo ano a gente vai repensar e muita coisa vai cair, muita coisa vai aparecer.
Hoje, você se acha muito?
Não, por quê? Parece? Muito pelo contrário. Se eu fosse o fodão não ia precisar trabalhar o tanto que trabalho. Faço várias coisas porque não me acho bom o suficiente, preciso fazer acontecer.
Em algum momento subiu no salto alto?
Até agora, não. Se por acaso aconteceu, desci rápido e nem percebi. Minha história de vida não deixa isso acontecer (ele perdeu o pai e a irmã ainda na adolescência). Não dá pra me gabar de nada. Sei que hoje está bom, mas amanhã pode estar ruim.
(Estadão)
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